sábado, 9 de janeiro de 2016

8 - NATAL de 2015 BOLINHA DE ÁRVORE DE NATAL




Ontem, eu estava colocando a iluminação na árvore de Natal.

Ainda não estamos em Dezembro, a árvore já está ficando pronta, e eu ponderava exactamente a respeito de toda esta antecipação, que pode até ser vista por alguns como sendo um exagero, principalmente por se tratar de uma casa sem crianças.

Foi nesse momento, que o fio eléctrico das pequenas  lâmpadas coloridas, mais grosso que o dos outros enfeites mais delicados, soltou do seu lugar uma linda bola prateada, grande e muito brilhante, que foi caindo pela árvore abaixo e provocou uma avalanche de pequenos enfeites coloridos que já estavam instalados.

Claro que não foi uma tragédia. Talvez até me tenha dado oportunidade de refazer melhor alguns dos detalhes e de tornar mais belo ainda aquele conjunto que, pelo menos a meus olhos, sempre tem uma beleza que me surpreende e sempre ultrapassa o que eu antecipo.

Optei por fixar o mais difícil primeiro e instalei sólidamente a iluminação. Depois, com todo o cuidado, peguei na grande bola prateada e voltei a pendurá-la na árvore, num lugar que me pareceu acolhedor e seguro para ela.

Na sua superfície prateada, muito brilhante e lisa, o reflexo distorcido das agulhas do pinheiro natalício formava desenhos esverdeados, salpicados de pontinhos brilhantes. E podiam ver-se também manchas azuis das fitas próximas e de outras bolas, e as minhas mãos mexendo-se pareciam provocar na superfície curva da grande bola uma sugestão de movimento.

Sendo esférica, parecia rodar sobre si mesma. E tornou-se inevitável, mesmo à minha mente distraída, a comparação com o nosso planeta. E quanto mais pensava nisso, mais a semelhança se tornava notável. Os oceanos a azul, a verde os espaços verdes. Branquinha na parte superior, reflexo do tecto da sala. E muitas luzinhas por toda a parte, reflexo das pequenas lâmpadas e dos seus reflexos noutras bolas da árvore. Parecia o nosso planeta, realmente.

E era tão grande a semelhança, que me afastei um pouco da árvore e me sentei por uns momentos no outro lado da sala, olhando para ela com atenção.

Claro que tinha sido uma coincidência – ou talvez não, não importava muito – mas aquela bola que caíra tinha feito com que eu olhasse com mais atenção para a árvore enquanto um todo, e depois com mais minúcia para os seus detalhes. E nessa semelhança que agora lhe encontrava com o nosso planeta, nasciam raciocínios inevitáveis sobre como tudo se encontra interligado, e como todos dependemos de coisas que nos são comuns.

Achei pequenas as manchas verdes na bola, e lembrei-me do desmatamento e da redução da superfície vegetal no planeta. Fiz paralelos com os aumentos da seca, e lembrei-me dos muitos milhões de pessoas que vivem sem água de qualidade, e de outros milhões que vivem já sem água quase nenhuma. Há poucos Natais, isso não era assim.

Depois lembrei-me de represas contendo resíduos venenosos, desabando e destruindo, na passagem de suas lamas, coisas que nos são fundamentais à sobrevivência. Matando no imediato, e contaminando para o futuro. E tudo numa dimensão gigantesca, com um alcance que ninguém previu e que põe em causa os modelos de controlo que temos.

Fiquei mais tempo do que esperaria, sentado no meu sofá, e olhando aquele planeta que bem vistas as coisas, cabe naquela bola da minha árvore de Natal. Estarrecido, vi como se erguiam ao alto bandeiras criminosas evocando fantasmas e escondendo ideologias oportunistas, sem esperanças de ganhos reais, apenas vontades de infligir perdas.

Olhei mais tempo, e vi guerras disfarçadas de religião. Vi negócios, na escassez em que deliberadamente são mantidos os empobrecidos, vítimas  duma História que alguns tentam reescrever sem o menor pudor, nem vergonha, nem sentido de verdade.

Não vi problemas insolúveis. Vi toda uma casta de políticos desnecessários, burocratas oportunistas sobrepondo-se à humanidade, absurdamente corruptos e muito distantes da vida real - que é feita de suor e dificuldades, mas também de superação, sobrevivência e de uma grandiosidade que, na sua maioria, eles desconhecem.

O que vi foi um planeta inteiro sendo mobilizado, motivado  para entrar em guerra outra vez, em vez de incitado a canalizar as suas forças para a tarefa perfeitamente possível que é o bem estar de todos. Não consegui abstrair-me do exemplo da bola de Natal. È evidente que em todos os erros e derrocadas há a oportunidade de corrigir e melhorar.

E por fim, regressei à minha árvore de Natal, ali na minha sala, feita com tanta antecedência.

A grande bola prateada que me faz lembrar o nosso planeta continua vacilante. Mas vou fixá-la  melhor para que não haja uma nova derrocada que arruíne tudo o que foi feito antes.

De qualquer forma, a árvore de Natal, assim com esta antecedência,  já fez algo que é precioso para mim: - deu-me um tempo de reflexão que acho ser cada vez mais necessário, sem pressas nem pressões, e no qual eu posso tentar distinguir o certo do é errado. Onde posso separar o que realmente é verdade, daquilo que é a verdade conveniente. Escolher entre o que realmente são os meus valores,  e os valores que querem que eu tenha.

Com esta antecedência tenho ainda tempo para pensar, e chegar ao dia de Natal liberto de tudo o que não quero para mim. E no fim do dia 24, quase à meia noite, provávelmente haverá adultos indignados com o barulho que vou fazer à janela. Vou agitar umas campainhas, bater com as mãos na mesa imitando o galope das renas e gritar “ Hou… Hou… Hou… Feliz Natal !!! “


Tenho a certeza que algumas crianças me entenderão, independentemente da idade que tiverem, ou da língua que falarem os seus pais.


Natal de 2015 

Um comentário:

  1. Lindo!! Rica bolinha que antecipou pensamentos. Os que creio natalinos. HOU HOU HOU....

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