sábado, 9 de janeiro de 2016

7 - NATAL 2014 EL SEÑOR MANUEL




O Señor Manuel viu quando chegaram.  O cavaleiro rápidamente  deixou  o cavalo  amarrado na pequena rua lateral e subiu os degraus até à loja. Quando abriu a porta, trazia na mão um envelope de papel muito branco. Era a resposta de Don Alberto, que aguardava ansiosamente.

No dia anterior, Don Alberto e a sua esposa tinham vindo fazer compras à sua loja. Tinham comprado muita coisa, muitos enfeites e muitos presentes, e Don Alberto  fizera questão de comprar coisas simples, mas de boa qualidade. Pela primeira vez, os meninos da Hacienda  iam celebrar o Natal e receber a visita do Bom Velhinho, e ganhar os seus presentes.

Tudo isso porque o menino Josellin, filho de Don Alberto e Doña Guadalupe, acreditava que a única razão de o Bom Velhinho nunca ter ido visitar a hacienda era porque os meninos não sabiam escrever e, portanto, nunca tinham escrito as suas cartas fazendo os seus pedidos de presentes. Agora, D. Alberto queria corrigir isso, e queria começar uma nova tradição: -Celebrar sempre o Natal na fazenda com uma grande festa, com muita alegria, muita comida, e muitos presentes, enfeites e todas as coisas típicas da época natalícia.

O Señor Manuel ficara encantado por ter feito  um negócio tão grande, e fascinado com a história daquele menino que, na sua inocência, estava já a mudar para melhor a vida de tantos outros meninos, que que moravam num lugar tão ermo e tão distante.

Pensando acerca disso, perguntava a si mesmo se não haveria nada que ele pudesse também fazer por essas pessoas menos afortunadas quando uma ideia começou a germinar na sua cabeça. Gostou do que pensou e  rapidamente escreveu a D.Alberto, falando-lhe da sua sobrinha Rosarito. 

Mandara a carta pelo peão Tomás, junto com o seu melhor cavalo, e ele cavalgara o dia inteiro para levá-la e trazer a resposta. Era ele que agora chegava, com uma carta de papel muito alvo nas mãos morenas.  Tomás entregou-lhe a carta num gesto sentido, emocionado. Não conhecia o conteúdo, mas podia sentir que era uma coisa importante.

“-Aqui estaá a resposta, Señor Manuel!”“-Gracias, Tomás! Deves estar cansado. Anda, vai comer alguma coisa y descansar. Amanhã fica com os teus filhos e a tua mulher, não precisas vir trabalhar. Hoje foi um dia muito duro, mas amanhã só cuidas do Blanquito.  Portou-se bem, o Blanquito ?”

Por um momento, os dois riram-se  do cavalo completamente negro a quem alguém  por brincadeira resolvera chamar Blanquito ( branquinho ).

“-Sim, Señor! É um bom cavalo. Cuidarei bem dele hoje e amanhã Señor. Boas noites!”
“-Boas noites, Tomás. Obrigado!

Finalmente só, e com as mão tremendo um pouco,  Señor Manuel abriu o envelope. A resposta à sua própria carta era concisa e curta, mas era tudo o que esperava e queria.

“Prezado Señor Manuel,
Lemos com muita atenção a sua carta, minha esposa e eu,   sobre a sua sobrinha professora, que devido a sua dificuldade em movimentar-se nos transportes públicos, não pode exercer a sua profissão. 

Foi realmente um acidente lamentável esse, que matou os seus pais e a deixou sem poder trabalhar e vivendo com o Señor e a sua família. Mesmo recebendo algum subsidio do governo para poder manter-se, não poder trabalhar  faz qualquer pessoa infeliz, por isso entendo completamente a sua preocupação em ajudá-la.

Temos na hacienda um  celeiro antigo que, com algumas reparações, poderia ser usado como escola para alfabetizar as crianças.  Mas há que pensar em custos e, por isso, aproveitei a oferta do seu peão Tomás para que, com outro cavalo,  levasse carta minha aos donos de mais duas “haciendas” vizinhas, que me responderam que os meninos dessas suas fazendas poderão também frequentar a escola aqui, e que dividiremos os custos entre todos.

Igualmente, eles como eu, agradecem a sua ideia, e as soluções que ela traz a todos.

Poderemos combinar mais detalhes passadas as festividades, mas  considere desde já que a sua sobrinha vai poder ajudar muita gente, se estiver disposta a vir viver aqui na fazenda. Casa onde morar, gente para ajudá-la e o que comer, não lhe faltarão nunca.

De salário  poderemos falar directamente com ela. Felicito-o pela sua idéia, e saÚdo-o uma vez mais pelas festividades.

Feliz Natal, Señor Manuel. “


Emocionado, o Señor Manuel terminou a leitura e pensou na sua sobrinha, tão preparada, tão pronta a ajudar os outros, e tão limitada pela sua cadeira de rodas.


Guardou a carta dentro de um outro envelope, no qual escreveu o nome dela. Ia coloca-lo junto do pinheiro de Natal em sua casa. 

Seria o seu presente para ela.


Henrique Mendes / revisada


Um comentário:

  1. Muita bondade junta. e sem o teu filosofar. Começo, meio e fim. tudo se encaixando.

    ResponderExcluir